Quando foi que, neste caminho da minha vida, eu me tornei má pessoa?
A minha vida tem andado louca nos últimos tempos.
Gestão de conflitos no trabalho, IMENSO trabalho, poucas horas de sono, problemas familiares para resolver, ao mesmo tempo que tento dar alguma atenção àqueles de quem gosto e não entrar completamente em parafuso.
Mas há algo que me deixa especialmente preocupada no meio disto tudo. Acho que estou a tornar-me demasiado egoísta.
Ás vezes, talvez a maior parte do tempo, só penso em mim.
Não que deseje deliberadamente mal a alguém. Não, nunca foi o caso.
Mas às vezes, independentemente do contexto, sou arrogante e insensível, e deixo demasiado que a minha experiência pessoal afecte a opinião que dou em relação à vida da outra pessoa. No fundo dou a opinião focada em mim, e não na pessoa.
E se de facto há muitas pessoas que não merecem a nossa atenção, há outras que realmente o merecem.
Uma interacção personalizada. Mais do que uma manifestação da minha presença, uma manifestação do outro em mim. Uma manifestação do outro que desperte em mim a modéstia de acreditar que, apesar de ser algo que eu não conseguiria fazer, talvez o outro consiga.
Porque tenho de ser capaz de acreditar nos outros.
Porque é que eu tenho esta mania de achar que se eu não consigo, mais ninguém consegue?
Acaso acho que sou melhor do que toda a gente? Quão desprezível é este sentimento?
Porque é que os sonhos e as aspirações dos outros hão-de ser inferiores aos meus? Também os tenho, com certeza! E muitos também poderão ser vistos como ridículos, impraticáveis e ingénuos por muito boa gente. Porque é que me dou ao direito de destruir os dos outros, se detestaria que destruíssem os meus?
Porque é que tenho esta mania de ser a portadora das más notícias? A informação da nuvem negra que paira?
Será uma necessidade de colocar os outros abaixo de mim?
Será que, para não invejar ninguém, não agir com maldade por inveja, tenho a necessidade de justificar interiormente a aparente alegria dos outros com ingenuidade?
Isto é-me útil em muitas situações, até porque grande parte da alegria que vemos é ingénua. Mas até que ponto as pessoas não são realmente mais felizes assim?
Não sei, à muito tempo que não sonho. À muitos anos que vejo as agruras da vida de uma maneira demasiadamente lúcida para a minha faixa etária. Para outras até.
Não sei. Acho que de alguma forma quero forçar as pessoas a ver a dura realidade e a saber viver com ela. Quero ser o exemplo vivo de que isso é possível. Talvez porque invejo aqueles que conseguem não pôr os pés na terra e continuam a sonhar.
Quando digo o que penso, tenho de perceber mais o que a outra pessoa quer realmente ouvir.
Porque algumas pessoas só querem que as deixemos sonhar. E que sonhemos com elas o seu sonho. Mesmo que a nossa visão da realidade, toda a dor que já passámos, toda a mágoa que já sentimos na pele, nos diga que esse sonho é impossível.
Porque se há quem consegue fazer alguma coisa nesta vida, são os que sonham.
"Jamais tire a esperança de alguém. Pode ser a única coisa que ainda lhe resta."
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